segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Henri de Toulouse Lautrec

Biografia:


No final do século XIX a França passava por grandes transformações, a revolução do século anterior ainda fazia sentir seus efeitos na estrutura político-social do país.Uma das Monarquias mais tradicionais da Europa tinha sido destituída para dar lugar a uma República, havia uma nova classe social no poder, a burguesia, até a própria cidade de paris passava por transformações em sua estrutura urbanística (foi nessa época que adquiriu as formas que hoje conhecemos). Mas uma coisa continuava igual, a miséria das camadas populares que habitavam os bairros de “má fama” e perambulavam pelo chamado submundo.

Todas essas mudanças político-sociais refletiram também nas artes, que tentam mais radicalmente se libertar dos cânones clássicos da arte figurativa, temos ai as bases do impressionismo.

Mas é em Paris, essa cidade em plena metamorfose (literalmente) que surge uma figura que vai sintetizar todo o ideal libertador do impressionismo, chegando até mesmo a se libertar desse, criando um estilo próprio e bastante peculiar de produção artística, se trata de Henri de Toulouse Lautrec.

Lautrec realiza um trabalho diferente tanto no tema principal de suas obras, o mundo dos cabarés e casas de espetáculos, até no uso de novas técnicas como a litografia, além de levar a arte a um novo campo, o da publicidade, em seu trabalho como cartazista.

È o trabalho inovador e peculiar que será mostrado a seguir, procurando ressaltar sua importância como marco de uma nova faceta da arte, não mais como mero objeto de contemplação, mas também como forma de expressão e linguagem.

La vie est un cabaret

Henri-Marie-Raymonde de Toulouse-Lautrec-Monfa nasceu em Albi, no sul da França, no ano de 1864. filho dos condes Adèle-Zoé Marquette Tapié de Céleyran e Alphonso-Charles Toulouse-Lautrec-Monfa, provenientes das mais notórias, antigas e aristocráticas famílias francesas

Após a morte de seu irmão mais novo Richard-Constantin, em 1868 seus pais se separam e Henri se muda para Paris com a mãe. Lá ele passa a freqüentar o prestigioso Liceu Fontanes, onde conhece aquele que seria seu amigo por toda a vida, Maurice Joyant, quem posteriormente seria também um dos mais entusiastas admiradores da obra de Lautrec pressionando-o a expor seu trabalho.Foi também lá onde Toulouse-Lautrec intensificou seu gosto pelo desenho.

Porém aos 13 anos de idade sofreu um acidente que marcaria sua vida, ao cair de um banco sofreu uma fratura no fêmur direito e menos de um ano depois quebrou o direito ao escorregar ás margens de um pequeno riacho, quando passeava pela propriedade de sua família. Esses acidentes, produto do que hoje se acredita ser uma distrofia poli-hipofisária, um desenvolvimento insuficiente de certos tecidos ósseos, deixaram grandes seqüelas na vida de Lautrec porque atrofiaram ambas as pernas e ele ficou com o aspecto nanico. Não chegou a ter mais que 1,52m de altura. Devido às dificuldades de locomoção passou a dedicar cada vez mais tempo à pintura.

Após terminar seus estudos em 1881enfrentou a oposição familiar e decidiu ser pintor. Tornou, pois a Paris onde graças a alguns conhecidos de seu pai (que atuava como escultor) consegue ser aceito como aprendiz do mestre Leon-Joseph-Florentin-Bonnat, que veemente defensor das normas acadêmicas, abominava os desenhos do aluno, chegando inclusive a declarar: “Sua pintura não é ruim, é elegante, mas seu desenho é atroz!”

Quando Bonnat fechou seu estúdio o jovem pintor aceitou um cavalete no ateliê de Fernand Cormon, em 1883. Lá convive com alguns pintores de sua idade que tentam desenvolver o legado impressionista, escola que admirava, apesar de preferir ter um estilo próprio. Também no estúdio de Comon conhece Van Gogh, de quem fica muito amigo(chega até a pintar um retrato do artista holandês, onde esse é mostrado de perfil, olhando para o além, sentado à mesa diante de um copo de absinto, é possível observar ali toda a angustia e melancolia do grande artista holandês)

Um ano depois abandona estúdio de Cormon e se instala na Rue Fontaine, no mesmo edifício onde trabalhava Degas, quem tem grande influencia em sua obra.

Nesses anos Lautrec passa a freqüentar os cabarés e casas de espetáculos de Paris, de onde sairia a inspiração para suas obras mais famosas. O bairro de Montmartre, a zona mais boemia de Paris, era cheio de operários, mulheres, vadios, uma sociedade trabalhadora, livre, que fascinada o jovem Henri. Assim seu trabalho imortalizou personagens como La Goulue, Valentin lê Desosse, Aristide Bruant, Jane Avril, Yvette Gilbert.

Seu primeiro cartaz encomendado em 1891 por Charles Zidler, proprietário do conhecido cabaré Moulin Rouge, o consagrou como um dos melhores cartazistas da França, assim Lautrec percebia esse nascente fenômeno urbano que é a publicidade, dando-lhe, no entanto dimensões artísticas ao experimentar ali novas técnicas gráficas como a litografia.

Além do Moulin Rouge, Lautrec frequentouo Jardin de Paris e o Divan Japonaise (para os quais tabém elaborou cartazes). Vale lembrar também do cantor de tendencias anarquistas Aristide Bruant para quem realizou alguns de seus mais célebres cartazes.

Mas a obra do artista não se limita aos espetáculos noturnos de "má fama" e os bordeis. Tém ilustrava programas de teatro (Théâtre Livre e Théâtre de L’Oeuvre) e canções (Maurice Donnay), colaborava com diversas revistas dentre elas Le Figaro Illustré e La Revue Blanche.

Porem a vida repleta de excessos debilita cada vez mais a já frágil saúde do pintor e é lentamente corroído pelo álcool e a sífilis. A família decide interná-lo em uma clinica de reabilitação em Neuilly, a fim de livrá-lo do vicio do álcool e com a esperança de que recupere sua saúde física e mental, onde (para provar sua consciência e ser libertado da internação) produz uma serie de desenhos tendo como tema o circo. Após escrever uma carta ao pai pedindo para sair da clinica Toulouse retoma seu trabalho e produz o maximo que lhe é possível. Tempo depois volta a morar com a mãe em Molromé, onde morre em conseqüência de um derrame em 9 de setembro de 1901.

Após sua morte a família faz de Maurice Joyant, fiel amigo de Lautrec, o herdeiro da obra do artista, graças a quem é inaugurado em 30 de junho de 1922 o Museu Toulouse Lautrec em Albi.

Sua obra

È difícil definir uma escola artística para classificar a obra de Toulouse Lautrec, é que apesar de grande admirador do impressionismo (Degas em particular tem grande influencia em sua obra) no que se refere às cores puras e ás composições febris, se distancia desse estilo por se interessar mais por interiores que por paisagens e por sua preferência pelo desenho e outras técnicas e materias mais simples.

Seu grande amor pelo desenho, e principalmente pelos trabalhos improvisados, o impulsionou a executar uma figuração rápida, dúctil, intensamente, significativa e comunicativa e com seu estilo pessoal caracterizado por linhas leves e onduladas, transgride freqüentemente as proporções anatômicas e as leis da perspectiva em favor da expressividade. “Toda sua obra é marcada por um traço incisivo e vivo, um predomínio da expressão forte sobre a correção acadêmica”.

Mesmo vindo de uma família aristocrática Lautrec é totalmente consciente da enorme hipocrisia do mundo em que vive e retrata isso em suas obras, ao retratar o chamado sub-mundo tenta mostrar as pessoas que dele fazem parte, prostitutas, cantoras, dançarinas, como seres humanos, de uma extrema profundidade emocional e complexidade psicológica, em contraste sempre com as cores vibrantes e traços jocosos.

As musas de Lautrec quase nunca são apresentadas em sua pintura como mulheres bonitas, ao contrario apresentam traços grosseiros quase caricaturais, como se usassem grotescas mascaras. Capta a atmofesra dos locais pelo uso de luz e cor, sugerindo a idéia de que se trata apenas de um teatro a grande encenação da vida.

A serie Elles é um exemplo disso, nos apresenta um panorama sensível da vida nos bordeis, mostrando as “mulheres desonestas” em situações do cotidiano, lavando-se, vestindo-se, diante do espelho, dormindo.

Para seus cartazes, pelos quais ficou bastante conhecido ainda em vida, Toulouse utilizava um mínimo de cores, quase sempre primarias, e traços, simplifica os contornos e utiliza grandes áreas monocromáticas, inspirado na idéia de movimento e economia de meios das estampas japonesas.

A partir de 1897, em seus últimos anos de vida, se observam grandes mudanças no estilo de Lautrec que retorna a produzir uma pintura mais empastada, mais escura e mais clássica.

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